“(...) A noite, amiúde, só nos traz insônia, inquietude, tormentos. O cinema nos oferece suas trevas. Penetremos no drama que nos apresentam. Se os heróis não tiverem alma de carne moída, se o objeto de seu tormento for válido, entraremos naturalmente no universo onde eles se agitam. Mas se não passarem de fantoches, nossas gargalhadas soarão altas e brutais (...) constata-se que, salvo salvo nos jornais da tela e em alguns filmes alemães, jamais se filma um enterro. É curioso notar que tanto o espetáculo da morte como o do amor foram banidos do cinema – e por amor entendo o amor pelo amor, com sua bestialidade e seus aspectos magníficos e selvagens. (...) Censor desconhecido, você chegou a avaliar bem o sentido dessas derradeiras cenas, ou seriam de aço sua alma e seu coração? (...) Deixem-nos com nossas desejáveis heroínas, deixem-nos com nossos heróis. Nosso mundo é desprezível demais para que nosso sonho seja irmão da realidade (...) Precisamos de amores e amantes à altura das lendas inventadas por nossos espíritos.”
Robert Desnos
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